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quinta-feira, julho 15

FRIEZA DO CASO BRUNO LEMBRA OUTRAS BARBÁRIES

O assassinato da jovem Eliza Samudio tem todos os ingredientes que tornam um crime chocante. Envolve seqüestro, agressões, tortura e uma morte trágica, com o corpo despedaçado e jogado aos cães. A cada detalhe dos depoimentos a história se torna mais terrível. Mas o que mais  impressiona é a frieza do goleiro Bruno Fernandes, de 25 anos, desde o início o principal suspeito do crime. Desde que o caso veio a público, Bruno se comportou como se nada estivesse acontecendo. Participou de treinos – até que o Flamengo decidiu afastá-lo – e disse que um dia ainda iria rir de tudo isso. Entregou-se à polícia com um único lamento: o fim do sonho de jogar na Europa e disputar a Copa de 2014. Eu ia para o Milan agora. Estava com o contrato nas minhas mãos, disse o jogador aos policiais que o acompanhavam. De acordo com um dos depoimentos mais horripilantes – o de seu primo Sérgio Rosa – Bruno refrescou-se com uma cerveja ao voltar do local onde acabara de assistir ao assassinato de Eliza.

http://veja.abril.com.br/assets/pictures/12405/bruno-preso-mg-size-598.jpg?1278690801 

A total ausência de emoção de Bruno, suspeito inicialmente de ser o mandante do crime e agora acusado de ter atraído pessoalmente Eliza para a morte, coloca esse caso ao lado de outros que horrorizaram o Brasil nos últimos tempos. Depois de assassinarem a atriz Daniella Perez, Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram abraçar a novelista Glória Perez, mãe de Daniella. A jovem Suzane Richtofen foi fotografada aos prantos no enterro dos pais, mortos a seu mando, por seu namorado. O casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, hoje condenados pelo assassinato de Isabella Nardoni, de cinco anos, foi quem avisou à mãe da menina que sua única filha havia caído da janela. São atitudes  estarrecedoras pelo que representam: a crueldade em estado bruto, fenômeno que põe em xeque todos os valores da condição humana. Nenhum de nós quer pertencer à mesma categoria que esse tipo de criminoso, diz o psiquiatra Talvane de Moraes, estudioso das motivações que levam o indivíduo ao crime.

Cérebros assassinos 

 Essa angústia humana em descobrir o que leva alguém a ser tão desumano está na origem dos primeiros estudos sobre a mente de ladrões e assassinos. A busca por um tipo físico característico do criminoso orientou grande parte da ciência forense no século XIX, e não prosperou. Vide o aspecto absolutamente normal de todos os criminosos citados no parágrafo anterior. Mais recentemente, a ciência conseguiu avanços consideráveis no estudo da mente criminosa. Descobriu-se que existem  indivíduos portadores de um distúrbio classificado pela Organização Mundial da Saúde como Transtorno de personalidade antissocial, ou psicopatia. Novas técnicas de mapeamento cerebral permitem associar esse transtorno a um atraso no desenvolvimento da área do cérebro chamada córtex pré-frontal, que é responsável pelo julgamento moral. 

Com a ajuda dos amigos 

 Para a psiquiatra Vera Lemgruber, chefe do serviço de Psiquiatria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, as atitudes de Bruno são indícios importantes de que ele pode ser um psicopata. Mas isso só poderá ser confirmado com exames especializados. E, ainda que se confirme, não explicará toda a barbaridade envolvida no caso. Bruno contou com uma rede de pessoas dispostas a ajudá-lo a levar seu plano de resolver o problema. Essa rede era formada por amigos antigos e parentes que gravitavam em torno de Bruno, usufruíam de alguma forma de sua fama e de seu dinheiro e aumentavam a onipotência que frequentemente toma conta dos ídolos. É algo comum no mundo do futebol, e muitas vezes é composta por pessoas com um pé (ou os dois) na marginalidade. Mas não são necessariamente assassinos em potencial. Poderiam ter se recusado a fazer sua parte no serviço. 

Nesse caso em que há muito mais dúvidas do que certezas, o que se pode afirmar sem medo de errar é que Bruno jogou por terra uma vida com a qual pessoas que nasceram pobres como ele sequer podem sonhar. Com salário de 200 000 reais, ele era um dos jogadores mais caros do Flamengo. Tinha patrocinador próprio e uma linha de produtos esportivos com seu nome. E perdeu tudo isso porque se recusou a resolver na Justiça uma situação nada incomum, principalmente em seu meio: um filho fora do casamento. Detalhe: segundo Anne Faraco, advogada de Eliza, o que a jovem queria era o reconhecimento da paternidade e uma pensão. De seis mil  reais por mês. Se for condenado, resta-lhe, paradoxalmente, torcer para ser enquadrado como psicopata. Nessa condição, poderá obter redução de um terço a dois terços da pena.

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