A CRUZADA DE ALENCAR CONTRA OS JUROS
Logo após tomar posse pela primeira vez como vice-presidente, em janeiro de 2003, José Alencar desencadeou uma cruzada pela redução da taxa de juros brasileira, mantida em patamar elevado pelo Banco Central como forma de prevenção contra a inflação.
A partir de 2006, a taxa, que estava em 17,25% ao ano, começou a cair e atingiu em julho de 2009 o patamar de 8,75% ao ano. Depois desse índice, teve alta e terminou o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 10,75%.
Já nos primeiros meses do primeiro mandato de Lula, a equipe comandada pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, recebia elogios de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial pelo desempenho na contenção do dólar e da inflação. Mas não de Alencar.
Empresário que se converteu em político apenas em 1994, ele não poupou críticas aos pontos centrais da política econômica adotada, logo se convertendo numa polêmica voz dissonante dentro do próprio governo.
Como vamos crescer, gerar empregos e distribuir renda com o país cada vez mais empobrecido? O empobrecimento advém desses juros que nós temos de derrubar para valer quanto antes, disse Alencar à revista Época em abril de 2003.
Desde então, as críticas se tornaram constantes. Numa das últimas entrevistas coletivas que concedeu como vice-presidente, disse que a questão dos juros não era técnica, mas política, e sugeriu que o Banco Central deveria acatar uma ordem do Executivo para adotar taxas de juros “de mercado.
A taxa média básica de juros reais no mundo é de –0,3%. Nos países desenvolvidos, essa taxa básica média de juros reais é de –0,5%. Nos países emergentes, é de 0%. E no Brasil, a taxa média real dos juros é 8%. Isso é inexplicável, justificou na ocasião.
Sempre que teve oportunidade, Alencar explicava, com didatismo e paciência, as razões que o levavam a criticar as altas taxas de juros, logo repetidas também como receita contra a crise financeira global.
Para escovar os dentes, eu fecho a torneira, porque mamãe me ensinou assim. Fazemos [no governo] todo tipo de economia, mas não vale nada com os juros nesse patamar, disse em entrevista à colunista Miriam Leitão.
Segundo Alencar, entretanto, suas opiniões não tinham grande peso nas ações do presidente Lula. Ele não vê pendurado no meu pescoço um diploma de economista. Então, acho que com toda razão ele pensa que o Alencar não tem autoridade para falar sobre isso.
Quando recebeu uma homenagem da Câmara dos Deputados e chorou ao contar momentos de sua história, Alencar voltou ao tema e resumiu seu pensamento sobre a política econômica.
O Brasil pode perfeitamente crescer a uma taxa muito boa, de 5% ou 6% ao ano, sem inflação, independentemente de aumentar taxa de juros, mesmo porque as taxas de juros do Brasil são as mais elevadas do mundo. O Brasil hoje é um dos países do Primeiro Mundo e não tem mais sentido conviver com esse tipo de taxa de juros [com] que nós temos convivido, afirmou.
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