NA CADEIA, BRUNO FALA
Na sala da diretora da Polinter, Bruno está à vontade. Refestelado numa cadeira, pés para o alto, ele olha de um lado para o outro. Não quer café nem água. Com fala mansa, ouve a movimentação das pessoas que começam a se aglomerar do lado de fora do prédio. Posso olhar?, pergunta. A delegada Roberta Carvalho abre uma fresta da janela. Ele se levanta, dá uma espiada e volta em silêncio. Troca de lugar. Agora, senta-se no sofá, apoiado numa almofada de tartaruguinha. Mas não para de observar. A águia pintada no vidro, símbolo da delegacia especializada, lhe desperta a atenção.
É uma águia?, pergunta, puxando assunto. É o símbolo da Polinter, responde a delegada. A senhora já viu o filme Ninho das Águias? Veja, é muito bom. Foi assim que Bruno iniciou a vida atrás das grades — aconselhando à mulher que acabara de prendê-lo a ver um filme sobre um general americano que sobrevive a um acidente e se vê em meio a um exército inimigo durante a Segunda Guerra Mundial.
A tranquilidade do goleiro que acabara de se entregar, pouco antes das 17h de quarta-feira, impressionou os muitos policiais curiosos que foram até a sala para vê-lo de perto. Um deles sentou-se ao lado do goleiro, que conversava com um dos advogados e com seu amigo Macarrão. Puxou assunto sobre futebol, claro. E, mais uma vez, Bruno parecia não entender a gravidade de sua situação e disse que agora está praticamente ‘fora’ da Copa de 2014: “Agora eu acho que as coisas ficaram muito mais difíceis. No Brasil, para mim... Se eu tinha esperança de disputar a Copa de 2014, acabou. Isso sou eu falando”, afirmou num vídeo gravado pelos agentes.
Após quase duas horas, Bruno saiu escoltado em meio à multidão que o xingava de assassino. Até a Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca, foram quase 30 minutos praticamente em silêncio. Mais confusão na chegada à outra unidade. E o mesmo semblante calmo.
A única reclamação foi do empurra-empurra que lhe valeu pancada na costela. Quando registrava digitais e era fotografado para entrar no sistema de presos, o goleiro conversou sobre bastidores de jogos do Flamengo.
A ficha só caiu, segundo policiais, quando Bruno viu o xadrez de oito metros quadrados, já quase meia-noite. Bruno arregalou os olhos e se calou outra vez. Seu fiel escudeiro Macarrão dormiu na cela ao lado. Quando acordaram, por volta das 9h, comeram pão com manteiga e tomaram café, a única refeição na cadeia. Bruno deixou a DH usando boné e com uma Bíblia na mão, presente de um funcionário da limpeza.
Para a dupla, foi um dia de espera. No início da tarde, seguiram para Bangu 2, onde ficaram na chamada ala do seguro, ao lado de Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, ex-chefe do tráfico da Mangueira. À noite, enfim, a Justiça autorizou a transferência deles para Belo Horizonte, para onde seguiram num jato da Polícia Civil mineira. É lá que eles responderão pelo homicídio de Eliza.
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